terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ambiente Tectogênico

Palácio Iguaçu

Para um leigo em arquitetura, a diferença entre colocar um vidro verde ou um transparente nas janelas de um imóvel pode ser irrelevante. Mas é justamente por causa disso que arquitetos e entidades da área travaram uma ver¬dadeira batalha contra a atual reforma do Palácio Iguaçu – que começou este ano. O imóvel (construído em 1953) é sede do governo do Paraná, marco referencial da arquitetura moderna no estado e faz parte do complexo do Centro Cívico, que acabou antecipando concepções que vieram a ser adotadas somente sete anos depois em Brasília (em 1960). Deveria, pela sua importância, ser restaurado. Na prática, porém, será reformado. Não é ilegal, mas é diferente.
Somente imóveis tombados pelo patrimônio histórico e cultural (estadual ou federal) devem ser restaurados. Também se pede o mesmo critério para as Unidades de Interesse de Preservação (UIP) do município. Houve, em 2003, uma tentativa de tombar não só o Palácio Iguaçu, mas todo o complexo do Centro Cívico que envolve o espaço dos três poderes. A ideia não saiu do papel e, agora, o palácio vai mesmo perder os vidros transparentes e receber vidros novos e verdes. “Será uma vergonha nacional. Só queríamos que a fachada fosse preservada, porque é o edifício público mais importante que temos, historicamente dizendo”, explica o arquiteto Orlando Ribeiro, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo e integrante da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea-PR). O vidro transparente, segundo Ribeiro, é uma alusão à transparência do poder. As esquadrias aparentes emolduravam a fachada e eram traços da arquitetura modernista. “O problema é que o edifício faz parte do patrimônio cultural de fato, mas não de direito. Queríamos o restauro e não a reforma”, afirma Ribeiro.
Projeto original
O governo já se pronunciou outras vezes dizendo que os vidros verdes vão manter uma certa transparência e que a tonalidade foi escolhida porque no projeto original, do arquiteto David Xavier de Azambuja, os vidros seriam verdes, mas não foram instalados porque, na época da construção, em 1953, eram caros demais. Para os arquitetos contrários à reforma, o palácio pode virar uma referência de intervenção que não deve ser feita em nenhum outro imóvel histórico.
A diferença entre reformar, recuperar e restaurar um imóvel é realmente tênue, mas im¬¬portante. Imagine uma residência qualquer: nor¬malmente, quando ela precisa de intervenções, é reformada e esta intervenção costuma garantir uma perfeita utilização do espaço, com um possível novo aspecto estético (que agrega valor ao imóvel) e sem nenhum compromisso com a preservação das características originais. Já a recuperação consiste em adaptar edificações antigas, consideradas como patrimônio, para uma nova utilização procurando preservar, sempre que possível, as características originais. O restauro, por outro lado, é extremamente rígido e exige que todos os detalhes do imóvel, sejam quais forem, sejam mantidos dentro de sua originalidade e concepção.
Busca ao passado
A restauração só pode ser feita por arquitetos porque envolve, além de questões arquitetônicas, um estudo sobre as técnicas antigas que eram usadas e um mergulho profundo no período histórico do Brasil em que determinada obra foi construída. “Existem cursos de Arquitetura que trabalham com esta disciplina. Mas eles ainda são raros no Brasil”, afirma o arquiteto Claudio Maio¬lino, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e proprietário da empresa Albatroz, especializada em restaurações.
A busca ao passado é importante até mesmo para saber como uma construção funciona. “Às vezes você começa a restauração e precisa tirar um quadrado pequeno, mas profundo, da parede só para descobrir qual era a cor original do imóvel, que nem sempre está documentada ou registrada em fotos”, conta Maiolino. E o pior é quando se descobre que a parede já recebeu diversas camadas de tintas, inclusive a látex, que não deixa as paredes antigas respirarem. “Quem passa a tinta látex não sabe como as antigas construções funcionavam. Antes não existia impermeabilização do solo, por causa disso as paredes recebiam toda a umidade que estava no chão. A pintura a cal, usada na época, fazia com que a respiração acontecesse, ao contrário da látex”, diz. O cal também era um dos únicos elementos usados para colorir antigamente, e por isso as igrejas e construções mais antigas eram sempre brancas.
As igrejas, aliás, são os edifícios mais complexos do ponto de vista da elaboração artística. A comunidade costumava pagar os melhores artistas para fazê-las, e por isso muitas delas são restauradas inclusive com o benefício da Lei Rouanet, porque fazem parte, além da religião, da história das cidades.
http://www. Ref. gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1005779

Thais dos Santos , 4° período Arquitetura e Urbanismo

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